As contusões musculares respondem por cerca de 60-70% das lesões relacionadas à prática de esportes, e sua severidade pode variar desde simples contusões na pele a contusões musculares com acometimento de órgãos internos.
A musculatura esquelética constitui a maior massa tecidual no corpo humano, respondendo por até 45% do peso total de uma pessoa. As contusões musculares são causadas por trauma fechado na face mais externa do músculo, resultando em lesões teciduais e musculares, além de hemorragias internas e entre os planos musculares.
A necrose tecidual e o hematoma resultante da contusão podem desencadear processos inflamatórios, mas ainda pouco se sabe sobre o papel da inflamação e sua importância no processo de cicatrização.
Os sintomas de uma contusão quase sempre são inespecíficos e o diagnóstico é feito por exclusão. Contudo, algumas queixas são bastante freqüentes (p.ex.: dor a mobilização ativa e passiva da região afetada) e os dados da anamnese freqüentemente trazem um relato de trauma recente.
A contusão pode ser diferenciada da ruptura muscular devido à presença de função residual (que não está presente na ruptura). Além disso, na ruptura a dor tende a ser mais intensa e relacionada a um esforço agudo, ao invés de um trauma direto.
Durante a anamnese, é importante procurar diferenciar a contusão da mialgia tardia por esforço (MTE). Freqüentemente, pacientes com MTE queixam desenvolvimento gradual da dor nas 12h seguintes à atividade física, e o desconforto tende a apresentar uma distribuição simétrica.
Ao exame físico, deve-se procurar por sinais de hematoma, edema, fraturas ou comprometimento neurovascular. Em mulheres e crianças, a presença de contusões musculares associadas a escoriações superficiais deve levantar sempre a possibilidade de violência doméstica ou abuso.
Contusões Musculares: dependendo das circunstâncias, considerar a possibilidade de... | |
• Fratura Femoral • Fratura por estresse • Ruptura muscular • Lesão do quadríceps • Síndrome Compartimental • Cãibras musculares • Leucemia • Hemofilia | • Púrpura trombocitopênica idiopática • Trombocitopenia • Púrpura de Henoch-Schoenlein • Eritema multiforme • Fotodermatite • Hiperpigmentação pós-inflamatória |
Na maioria dos casos, não é necessário realizar uma propedêutica extensa. O exame clínico fornece todas as informações necessárias para o diagnóstico e planejamento terapêutico.
Caso a contusão esteja associada a sangramentos maciços ou se o paciente for portador de algum tipo de coagulopatia, pode-se solicitar um hemograma e um coagulograma para avaliar melhor o quadro geral. Se a escoriação for extensa e houver preocupação quanto à possibilidade de rabdomiólise, recomenda-se realizar dosagem dos níveis séricos de creatinoquinase, mioglobina sérica e urinálise de rotina.
Os exames de imagem são bastante úteis para excluir a possibilidade de outras doenças. Por exemplo, radiografias ajudam a detectar fraturas ou desenvolvimento de miosite ossificante. A ressonância nuclear magnética pode ser empregada para avaliar hematomas, rupturas musculares e possíveis síndromes compartimentais.
Na primeira fase do tratamento, chamada Fase Aguda, o objetivo é minimizar a hemorragia e a inflamação e controlar a dor. A imobilização do membro afetado com repouso, compressas geladas e elevação deve ser feita nas primeiras 24h em pacientes com contusões menores e por 48h em pacientes com contusões moderadas ou severas.
A recomendação geral é evitar calor nas primeiras 24-48h para não piorar a hemorragia e o edema. Uma vez estabilizada a lesão, a aplicação de calor local pode ajudar na reabsorção do hematoma.
Pacientes com contusões severas na coxa devem ser recomendados a utilizar muletas ou bengalas para evitar progressão da lesão muscular. Um curativo compressivo no local, mantendo o joelho em leve flexão, também ajudam a controlar a dor e limita a extensão do hematoma intramuscular. Além disso, a posição de flexão alonga o músculo, aumentando a tensão e facilitando a drenagem do edema na região.
A terapia com ultra-som vem se tornando uma modalidade popular no tratamento das contusões musculares. Seus defensores alegam que esta abordagem estimula a proliferação celular e a síntese proteica, promovendo uma melhor recuperação dos tecidos afetados. Contudo, o ultra-som pode estimular a proliferação tanto de células miogênicas quanto de fibroblastos, retardando o processo de cura. Por este motivo, estudos recentes vêm questionando o papel do ultra-som em pacientes com contusões musculares, alguns até mesmo demonstrando resultados desfavoráveis nos pacientes tratados.
Na segunda fase do tratamento, chamada Fase de Recuperação ou de Regeneração, o objetivo é restaurar a mobilidade e a força muscular. Exercícios isométricos podem ser realizados de acordo com o nível de tolerância do paciente.
Na terceira fase do tratamento, chamada Fase de Maturação ou Remodelamento, observa-se uma recuperação funcional gradual do músculo. Nesta fase, estimula-se a prática de exercícios de resistência com cargas progressivas, com o cuidado de evitar uma abordagem muito agressiva – que poderia resultar em re-injúria muscular.
Farmacoterapia
Os antiinflamatórios não-esteróides (AINE) são os fármacos mais comumente empregados. Pacientes com dor intensa e refratária ao uso de AINE podem se beneficiar do uso de analgésicos opióides (p.ex.: hidrocodona, oxicodona), mas este é um evento pouco freqüente.
Os corticosteróides não possuem lugar no tratamento das contusões musculares. Eles são catabólicos e inibem o processo cicatricial.
Os esteróides anabólicos podem ser úteis no tratamento de certas contusões, graças aos seus efeitos sobre o balanço nitrogênio-proteico e estimulação da síntese celular. Contudo, as pesquisas neste sentido ainda são limitadas e muitos organismos e entidades desportivas controlam ou mesmo proíbem o uso de algumas destas drogas em atletas.
As contusões musculares costumam ser eventos menores, mas podem complicar com rupturas músculo-tendinosas ou síndromes compartimentais potencialmente graves. A miosite ossificante é uma complicação observada em 9% de todas as contusões musculares, chegando a uma incidência de 18% nos casos mais severos. Felizmente, o prognóstico para a maioria dos pacientes é excelente e boa parte das contusões se encontra completamente resolvida após cerca de 21 dias de tratamento.
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