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segunda-feira, 6 de setembro de 2010




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As contusões musculares respondem por cerca de 60-70% das lesões relacionadas à prática de esportes, e sua severidade pode variar desde simples contusões na pele a contusões musculares com acometimento de órgãos internos.


Introdução

A musculatura esquelética constitui a maior massa tecidual no corpo humano, respondendo por até 45% do peso total de uma pessoa. As contusões musculares são causadas por trauma fechado na face mais externa do músculo, resultando em lesões teciduais e musculares, além de hemorragias internas e entre os planos musculares.

A necrose tecidual e o hematoma resultante da contusão podem desencadear processos inflamatórios, mas ainda pouco se sabe sobre o papel da inflamação e sua importância no processo de cicatrização.


Exame do Paciente

Os sintomas de uma contusão quase sempre são inespecíficos e o diagnóstico é feito por exclusão. Contudo, algumas queixas são bastante freqüentes (p.ex.: dor a mobilização ativa e passiva da região afetada) e os dados da anamnese freqüentemente trazem um relato de trauma recente.

A contusão pode ser diferenciada da ruptura muscular devido à presença de função residual (que não está presente na ruptura). Além disso, na ruptura a dor tende a ser mais intensa e relacionada a um esforço agudo, ao invés de um trauma direto.

Durante a anamnese, é importante procurar diferenciar a contusão da mialgia tardia por esforço (MTE). Freqüentemente, pacientes com MTE queixam desenvolvimento gradual da dor nas 12h seguintes à atividade física, e o desconforto tende a apresentar uma distribuição simétrica.

Ao exame físico, deve-se procurar por sinais de hematoma, edema, fraturas ou comprometimento neurovascular. Em mulheres e crianças, a presença de contusões musculares associadas a escoriações superficiais deve levantar sempre a possibilidade de violência doméstica ou abuso.


Contusões Musculares: dependendo das circunstâncias, considerar a possibilidade de...

• Fratura Femoral
• Fratura por estresse
• Ruptura muscular
• Lesão do quadríceps
• Síndrome Compartimental
• Cãibras musculares
• Leucemia
• Hemofilia
• Púrpura trombocitopênica idiopática
• Trombocitopenia
• Púrpura de Henoch-Schoenlein
• Eritema multiforme
• Fotodermatite
• Hiperpigmentação pós-inflamatória


Propedêutica Complementar

Na maioria dos casos, não é necessário realizar uma propedêutica extensa. O exame clínico fornece todas as informações necessárias para o diagnóstico e planejamento terapêutico.

Caso a contusão esteja associada a sangramentos maciços ou se o paciente for portador de algum tipo de coagulopatia, pode-se solicitar um hemograma e um coagulograma para avaliar melhor o quadro geral. Se a escoriação for extensa e houver preocupação quanto à possibilidade de rabdomiólise, recomenda-se realizar dosagem dos níveis séricos de creatinoquinase, mioglobina sérica e urinálise de rotina.

Os exames de imagem são bastante úteis para excluir a possibilidade de outras doenças. Por exemplo, radiografias ajudam a detectar fraturas ou desenvolvimento de miosite ossificante. A ressonância nuclear magnética pode ser empregada para avaliar hematomas, rupturas musculares e possíveis síndromes compartimentais.


Tratamento

Na primeira fase do tratamento, chamada Fase Aguda, o objetivo é minimizar a hemorragia e a inflamação e controlar a dor. A imobilização do membro afetado com repouso, compressas geladas e elevação deve ser feita nas primeiras 24h em pacientes com contusões menores e por 48h em pacientes com contusões moderadas ou severas.

A recomendação geral é evitar calor nas primeiras 24-48h para não piorar a hemorragia e o edema. Uma vez estabilizada a lesão, a aplicação de calor local pode ajudar na reabsorção do hematoma.

Pacientes com contusões severas na coxa devem ser recomendados a utilizar muletas ou bengalas para evitar progressão da lesão muscular. Um curativo compressivo no local, mantendo o joelho em leve flexão, também ajudam a controlar a dor e limita a extensão do hematoma intramuscular. Além disso, a posição de flexão alonga o músculo, aumentando a tensão e facilitando a drenagem do edema na região.

A terapia com ultra-som vem se tornando uma modalidade popular no tratamento das contusões musculares. Seus defensores alegam que esta abordagem estimula a proliferação celular e a síntese proteica, promovendo uma melhor recuperação dos tecidos afetados. Contudo, o ultra-som pode estimular a proliferação tanto de células miogênicas quanto de fibroblastos, retardando o processo de cura. Por este motivo, estudos recentes vêm questionando o papel do ultra-som em pacientes com contusões musculares, alguns até mesmo demonstrando resultados desfavoráveis nos pacientes tratados.

Na segunda fase do tratamento, chamada Fase de Recuperação ou de Regeneração, o objetivo é restaurar a mobilidade e a força muscular. Exercícios isométricos podem ser realizados de acordo com o nível de tolerância do paciente.

Na terceira fase do tratamento, chamada Fase de Maturação ou Remodelamento, observa-se uma recuperação funcional gradual do músculo. Nesta fase, estimula-se a prática de exercícios de resistência com cargas progressivas, com o cuidado de evitar uma abordagem muito agressiva – que poderia resultar em re-injúria muscular.


Farmacoterapia

Os antiinflamatórios não-esteróides (AINE) são os fármacos mais comumente empregados. Pacientes com dor intensa e refratária ao uso de AINE podem se beneficiar do uso de analgésicos opióides (p.ex.: hidrocodona, oxicodona), mas este é um evento pouco freqüente.

Os corticosteróides não possuem lugar no tratamento das contusões musculares. Eles são catabólicos e inibem o processo cicatricial.

Os esteróides anabólicos podem ser úteis no tratamento de certas contusões, graças aos seus efeitos sobre o balanço nitrogênio-proteico e estimulação da síntese celular. Contudo, as pesquisas neste sentido ainda são limitadas e muitos organismos e entidades desportivas controlam ou mesmo proíbem o uso de algumas destas drogas em atletas.


Conclusão

As contusões musculares costumam ser eventos menores, mas podem complicar com rupturas músculo-tendinosas ou síndromes compartimentais potencialmente graves. A miosite ossificante é uma complicação observada em 9% de todas as contusões musculares, chegando a uma incidência de 18% nos casos mais severos. Felizmente, o prognóstico para a maioria dos pacientes é excelente e boa parte das contusões se encontra completamente resolvida após cerca de 21 dias de tratamento.


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